sexta-feira, 5 de junho de 2009

Reflexão teoria e prática pedagógica

1º momento: Contação da história.

Quando conversei com as crianças que trabalharíamos a história “Ovelha negra, eu?”, ficaram curiosos sobre o que tratava a mesma. Fizemos um círculo no chão e comecei a contá-la à eles. Num primeiro momento aparece uma cena onde três ovelhas escutam que seu dono estava furioso com a ovelha Dorinha, a única de pelo negro de seu rebanho, pois ouviram-no dizendo isso à seu filho e elas acharam que ele falava de sua amiga. Contam a amiga o que haviam escutado e ela fica triste e pede que descubram o porquê de seu dono estar de mal com ela, que nada fez de errado.
Pedem então a ajuda do cachorro do sítio e ele descobre que a expressão utilizada se referia ao filho de seu Aristides e queria dizer que ele fez coisas erradas, que estava trilhando um mau caminho. Dorinha fica indignada com o fato dos seres humanos relacionarem a cor negra com coisas negativas, tipo “ a situação tá preta” ou “nuvem negra”, entre outras. As ovelhas solidárias com a amiga fazem uma rebelião, e a única não participante é justamente Dorinha.
O veterinário é chamado e sustenta que os animais encontram maneiras de mostrar as pessoas o que estão sentindo e levanta uma questão a seu Aristides: Por que será que a ovelha negra foi à única que não se rebelou?
As ovelhas ouvem tudo e acham o veterinário muito esperto. Dorinha ficou muito comovida com a atitude das amigas e diz que seria bom se as pessoas entendessem o poder das palavras, o quanto podem ferir ou alegrar alguém.
Seu Aristides pode não ter entendido a mensagem, mas se sentiu incomodado e talvez a partir disso reflita sobre o que fala.

2º momento: Diálogo sobra à história.

EU-O que significa ovelha negra expressão usada na história?
ELES-Quando queremos dizer que alguém fez algo errado e não a cor da ovelha.
ELES-Coitada da ovelha, só porque ela era negra sofrer assim.
EU-Ela era má porque é negra?
ELES-Não, ser escuro não é ser ruim.
EU-É bonito ser negro?
ELES-É, toda cor é bonita.
Ser moreninho é legal.
EU-Ela era moreninha, ou negra?
ELES-Negra, preta.
EU-O que acharam da atitude das ovelhas para com Dorinha?
ELES-Legal.
Foram amigas dela, defenderam ela.
EU-Vocês já ajudaram alguém? Como se sentiram?
ELES-Sim, dei lanche para meu amigo.
Dei meu brinquedo para ele brincar e eu e ele ficamos felizes, somos bem amigos.



3º momento: Desenho sobre a história.




4º momento: Exploração das fotos trazidas pelos alunos.

Montagem de um tapete e exploração das fotos dos alunos, buscando explorar a diversidade encontrada entre eles, a descoberta de si mesmo e do outro.

Reflexão teoria e prática
Durante a aplicação das atividades pude perceber algumas expressões que denotavam um racismo velado como “escurinho”, “moreninho”, entre outras que relatam as faces do preconceito mesmo entre crianças tão pequenas, de seis anos. Observei também que uma das crianças da turma apresenta bastante dificuldade em se expressar, dizer o que pensa, e que é afro-descendente, isso pode ser a maneira como foi educada, procurando passar desapercebida no meio social em que está inserida, ou pelo próprio preconceito da sociedade onde o negro é desvalorizado pela sua cor, sendo considerado inferior e muitas vezes acaba por aceitar esse rotulo agindo como se fosse uma verdade. Ao mesmo tempo percebi uma grande afetividade da turma entre si, um brincar, um conversar, um construir e cooperar com o grupo, não importando a etnia. Percebo que o preconceito e a discriminação são práticas construídas nos espaços sociais: família, escola, igreja, e como essas crianças ainda estão no início dessa trajetória não desenvolveram atitudes de preconceito de forma tão explícita para com os outros. Embora seja assim ainda há uma dificuldade em abordar temas como o preconceito, a discriminação, seja de origem étnica, religiosa, social, pois se configuram em tabus para o professor, o aluno, a família, para a escola e a sociedade em geral, que foi construída nessa base, onde cada indivíduo deve aceitar o lugar que lhe imposto, observando suas condições sociais e econômicas, refletindo sobre isso, se faz necessária uma mudança de paradigmas, o que nunca é fácil, pois a sociedade passará por um estado de desacomodação e desequilíbrio que gera a real mudança nas civilizações.
Realizar esse tipo de trabalho com as crianças pequenas é muito rico, porque elas possuem uma receptividade ao novo, a descoberta de histórias, o observar os desenhos, o expor suas opiniões e sentimentos, é expansiva ao natural, afetiva com os colegas, com a professora, construindo a cada momento as relações sociais na troca com o outro.

Um comentário:

Luciane Machado disse...

Luciane, por isso o resgate da verdadeira história,a escola proporcionando o conhecimento a reflexão, desmistificando os esteriótipos existentes.
Um movimento de resgate da auto-estima e de identidade.Bjs.